O Atlético Paranaense que já tem a cara de Fernando Diniz

Renan Nery
4 min readApr 17, 2018

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Fernando Diniz ainda está invicto sob o comando do Furacão (Foto: Miguel Locatelli/CAP)

Depois de largar o Guarani ainda na pré-temporada e assinar com o Atlético Paranaense no mês de janeiro, o técnico Fernando Diniz finalmente chegou a um grande clube do futebol brasileiro. O Furacão tem a estrutura necessária para a mudança de patamar que Diniz espera desde o grande trabalho à frente do Grêmio Osasco Audax no vice-campeonato paulista de 2016. O comandante ainda teve um ‘’plus’’ para facilitar ainda mais a inserção de seus conceitos: Tempo para treinamentos.

O Furacão utiliza há muitos anos um time de transição no Estadual e resguarda a equipe principal, que se prepara com três meses de pré temporada com enfoque na preparação física para as longas competições do restante da temporada. A estratégia deu certo nos anos de 2013 e 2016, quando o CAP conquistou uma vaga para a Libertadores via Campeonato Brasileiro, em ambas arrancando na segunda metade da temporada, sempre em melhor índice físico quando comparado aos outros rivais. Neste ano, o time de transição desempenhou um grande papel no Campeonato Paranaense e levou o título sob o comando de um outro técnico, Tiago Nunes, dando resultados imediatos.

Sob o comando de Tiago Nunes, equipe de transição levou o Paranaense de 2018 (Foto: Miguel Locatelli/CAP)

Depois de observar de perto os nomes de destaque da base campeã estadual, Diniz iniciou a temporada mais tarde. Até o meio de abril, por exemplo, foram apenas sete partidas disputadas sob seu comando, sendo cinco pela Copa do Brasil, uma pela Sul-Americana e uma na Série A. Vale destacar a permanência da invencibilidade até aqui, que dá tranquilidade e respaldo para o trabalho. São cinco vitórias (Caxias- RS 0 a 1 Atlético-PR, Atlético-PR 5 a 4 Tubarão-SC, Atlético-PR 2 a 1 São Paulo, Atlético-PR 3 a 0 Newell’s Old Boys, Atlético-PR 5 a 1 Chapecoense) e dois empates (Atlético-PR 0 a 0 Ceará, Ceará 1 a 1 Atlético-PR).

Neste curto espaço de tempo, o desempenho e o rendimento do Furacão sob o comando do treinador impressiona. O sistema tático em relação à temporada passada foi alterado. Ao invés do 4-2-3-1, Diniz passou a buscar a superioridade numérica em todos os setores do campo e o time foi ajustado para atacar numa espécie de 3-4-3 e defender-se no 5-4-1. Diferente de 2017, quando pouco produzia ofensivamente, o time atleticano vem evoluindo a cada partida e os dois duelos da semana passada, diante do Newell’s e Chape, mostraram uma equipe que dominou o adversário naturalmente.

Furacão goleou a Chapecoense na estreia do Brasileirão (Foto: Jason Silva/AGIF)

Esse modelo de jogo rubro-negro é feito de ideias reunidas e aplicadas, como a saída de três, flutuação defensiva, o perde-pressiona na recuperação da bola, jogo apoiado para triangulações, intensidade, profundidade, amplitude e jogo entrelinhas. Outra característica importante desse time, em particular, é o fato de atrair o adversário em seu campo, sair com facilidade da pressão e ter o campo aberto para atacar. E trocar passes. Muitos passes.

O fundamento do passe é um capítulo a parte nos trabalhos de Fernando Diniz. Segundo os dados do Footstats, na passagem mais consistente de sua carreira, o marcante Audax foi líder do Paulistão de 2016 em passes certos, viradas de jogo e finalizações no alvo. Agora no Furacão, os dados se assemelham. Em sete jogos no ano, média de 575 passes por jogo, com um índice de 94,4% de acerto.

O Audax de Diniz foi o líder em passes certos no Paulistão de 2016 (Fotos: Reprodução Footstats)
O Audax também liderou o número de finalizações no alvo do Paulistão de 2016 ( Foto: Reprodução Footstats)

Só no jogo de estreia do Campeonato Brasileiro diante da Chapecoense, o Atlético-PR trocou 635 passes, sendo 605 certos. Um aproveitamento de 95,4% de acerto. Mais de 400 passes a mais que seu oponente, durante os 90 minutos. Uma proposta de jogo assimilada rapidamente pelo seu elenco e em franca evolução.

A maneira de atuar que chamou atenção em solo paulista nos últimos anos, promete também fazer barulho no Campeonato Brasileiro. Mas sabemos que a ‘’panela de pressão’’ no futebol nacional não respeita necessariamente o desempenho, e sim resultados imediatos. No maior desafio de sua ainda curta carreira, Fernando Diniz vai precisar se respaldar em conquistas o quanto antes para criar a ‘’casca’’ que os treinadores precisam para se firmar na carreira em solo nacional.

Se no campeonato de pontos corridos, a meta parece ambiciosa demais para o Furacão, os torneios de mata-mata como a Copa do Brasil e a Sul-americana parecem meios mais viáveis de promover o sucesso do trabalho de Fernando Diniz no futebol brasileiro.

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