Seleção Portuguesa: O mau momento dos protagonistas às vésperas da Copa do Mundo
No ano de 2004, uma talentosa geração portuguesa sucumbiu em casa diante da zebra Grécia na final da Eurocopa, perdendo a chance de levantar pela primeira vez o maior troféu da história da Seleção. O técnico era Luiz Felipe Scolari, o Felipão, e o onze inicial tinha como base os recém campeões da Liga dos Campeões com o Porto de José Mourinho.
Nomes como Ricardo Carvalho, Maniche, Deco, Rui Costa, Figo, Pauleta e a jovem promessa Cristiano Ronaldo formaram um dos grandes esquadrões da história da nação, embora sem conquistas relevantes. Na Copa do Mundo de 2006, a histórica campanha que terminou na quarta colocação do Mundial encerrou o ciclo desta fornalha de jogadores.
Dez anos depois, um grupo jovem e talentoso conseguiu o objetivo e curou as feridas de uma potência do futebol marcada pelos fracassos recentes. A inesperada vitória na final da Eurocopa de 2016, diante da anfitriã e favorita França deixou em evidência a nova safra da Seleção Portuguesa.
A aposta do experiente técnico Fernando Santos foi no jogo coletivo e na técnica de uma geração mais nova, sem depender tanto da genialidade de Cristiano Ronaldo, o melhor jogador do mundo nas duas últimas temporadas.
A média de idade dos selecionáveis era baixa em relação aos seus rivais. Dos onze titulares e três reservas que entraram na conquista do título, cinco tinham menos de 25 anos — e todos começaram o jogo. Alguns nomes estiveram presentes na campanha do vice campeonato Europeu sub-21, disputada no ano anterior. Na ocasião, a seleção portuguesa foi derrotada nos pênaltis para a Suécia, depois do empate no tempo normal.
Ao todo, oito jogadores marcaram presença nas duas competições: os laterais Raphael Guerreiro e Cedric Soares; além dos meio campistas William Carvalho, Renato Sanches, Rafa Silva, André Gomes, Danilo e João Mário.
Para a disputa das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018, Fernando Santos começou a convocar mais jovens que estavam despontando no cenário do futebol. O meia Bernardo Silva, camisa 10 do Mônaco, de 23 anos e o centroavante André Silva, do Porto, de 21. Na convocação seguinte, nas goleadas sobre Andorra e as Ilhas Faroe, Fernando Santos abriu espaço para mais dois jovens. O comandante chamou o lateral direito Nelson Semedo, de 23 anos, do Benfica, e Gelson Martins, de 21 anos, do Sporting.
Momento pós título: As mudanças de patamar que não deram certo
Após o torneio continental, a janela de transferências foi generosa com a promissora geração. Expostos aos olhos dos grandes clubes, muitos dos recém campeões trocaram de equipes em transações milionárias. A infeliz coincidência foi que, os grandes destaques tiveram uma sequência ruim na carreira nos últimos dois anos. Todos os jogadores que se transferiram para os grandes centros acabaram sofrendo com o aumento de nível e deixaram a desejar nos seus novos clubes.
No entanto, o técnico da seleção, Fernando Santos, segue dando moral à base que conquistou a Europa há dois anos atrás e a aposta nos garotos se mantém para a disputa da Copa do Mundo na Rússia. Confira como anda o momento de alguns dos protagonistas da Seleção Portuguesa nos últimos anos:
Renato Sanches
O grande destaque português na Eurocopa, o jovem volante Renato Sanches, foi chamado por Fernando Santos como uma surpresa. Aos 19 anos, o jogador foi reserva no início da competição, mas entrou em campo em todas as partidas, sendo um dos pilares do campeão. Ao final do torneio, foi eleito o melhor jovem jogador do ano de 2016 pela UEFA e valorizado, trocou o Benfica pelo Bayern de Munique por 40 milhões de Euros.
A mudança de patamar, no entanto, não saiu como o esperado. Tratado como um membro de rotação num elenco pesado, Renato Sanches sofreu com a falta de minutos e com a má fase do time alemão após a saída do técnico Pep Guardiola do comando dos Bávaros. Com apenas 25 partidas, nove como titular, o Bayern optou em ceder o jogador ao Swansea, por empréstimo.
Na Premier League, porém, a adaptação foi ainda mais complicada. Sofrendo com o baixo desempenho dentro de campo e com constantes lesões, o volante, hoje com 20 anos, perdeu espaço na seleção e ficou de fora das últimas listas do técnico Fernando Santos. Pra piorar ainda mais, está fora de combate desde o dia 27 de janeiro, com uma lesão muscular na coxa e corre contra o tempo para tentar recuperar o prestígio na seleção e disputar a Copa.
André Gomes
Talvez seja o caso mais crítico de queda de rendimento de um atleta. O meia André Gomes, de 23 anos foi outro a sentir demais o impacto de uma troca para um clube de maior expressão.
Após atuações de destaque na Eurocopa, o meia foi negociado pelo Valencia junto ao Barcelona pela bagatela de 35 milhões de Euros. As duas temporadas em que o jogador esteve presente no time catalão porém, não saíram conforme o esperado.
O objetivo dos espanhóis era transformar o português numa peça de opção ao ídolo Andres Iniesta e realizar a transição para a aposentadoria do veterano. No entanto, André Gomes simplesmente não conseguiu repetir o bom futebol mostrado no Valencia e na Seleção e tem sofrido muitas críticas dos torcedores blaugranas.
Em entrevista recente a uma revista espanhola, o jogador afirmou que tem sofrido com depressão e sentido vergonha de sair na rua. Tudo por conta do mau desempenho em campo. Na seleção portuguesa, porém, o meia segue sendo lembrado pelo técnico Fernando Santos e está próximo da lista final para a Copa do Mundo.
João Mário
O talentoso carequinha foi o dono do meio campo da seleção portuguesa durante a Euro 2016. Com a camisa 10 e muita qualidade na distribuição dos passes, João Mário chamou a atenção da Internazionale na competição. Após o título europeu, foi negociado pelo Sporting aos Neazzurri pela fortuna de 45 milhões de Euros.
O impacto positivo foi imediato, com o português conseguindo manter uma regularidade de atuações acima do restante da equipe, que foi instável durante a temporada 2016/2017 na Série A. O momento ruim ficou traduzido pelas quatro trocas de treinadores durante a competição.
No ano seguinte, já sob o comando de Luciano Spaletti, João Mário perdeu espaço no time e passou a ser opção frequente no banco de reservas. Como consequência, a queda de desempenho foi drástica, com seguidas críticas dos torcedores e dos jornais italianos.
A saída por empréstimo ao West Ham na janela de transferências de janeiro foi vista como um recomeço para João Mário. No entanto, o momento dos Hammers na Premier League é péssimo.
Na luta contra o rebaixamento na Premier League, o elenco foi cobrado pela torcida com uma invasão de campo após uma derrota em casa para o Burnley. Segundo jornais ingleses, alguns atletas do clube, inclusive João Mário, foram vistos num hotel em Miami, nos Estados Unidos após o incidente. A direção do West Ham decidiu afastar os jogadores da Inglaterra para ‘’baixar a poeira’’ no elenco, mas a atitude foi criticada pela imprensa e pelos torcedores.
Na seleção, João Mário vive dias melhores, estando presente em todas as convocações do técnico Fernando Santos e gozando de prestígio com o comandante. O meia foi titular na Copa das Confederações e nas Eliminatórias e é nome certo na lista final para estar na Copa do Mundo.
André Silva
O jovem centroavante de 22 anos não esteve na campanha do título europeu, mas foi chamado logo em seguida para as Eliminatórias para a Copa do Mundo da Rússia. O atacante aproveitou a fase goleadora no seu clube, o Porto, e seguiu balançando as redes na Seleção, agradando logo de cara. A ótima largada fez André ser apontado como o sucessor de Pauleta e companheiro ideal de Cristiano Ronaldo no comando do ataque.
Os holofotes e o bom desempenho se transformaram em mais uma transferência milionária de um jovem português. André Silva foi negociado durante a Copa das Confederações de 2017, junto ao Milan por 38 milhões de Euros. O papel do jovem matador seria o de ser um expoente ofensivo de uma reformulação num dos gigantes do futebol italiano.
A chegada, porém, não foi das melhores. Num momento conturbado e sem conquistas recentes, o ambiente rossonero é de muita pressão. Pra piorar, o atacante chegou a ficar 14 jogos sem balançar as redes e foi parar no banco de reservas do técnico Gennaro Gattusso. O ex-volante porém, rejeitou uma oferta para saída do centroavante e garantiu contar com o português para o restante da temporada. Na seleção lusitana, André Silva tem alternado a titularidade com minutos no banco de reservas, mas tem a presença praticamente garantida no Mundial da Rússia.
Nelson Semedo
Depois de ter conquistado espaço entre os profissionais em 2015-16, temporada em que sofreu um problema no joelho, o lateral direito se consolidou como titular absoluto do Benfica na campanha passada e se estabeleceu na seleção portuguesa. Foi titular durante a Copa das Confederações e como consequência, se transferiu para o Barcelona por 30 milhões de Euros.
A aposta dos catalães era de que Semedo pudesse repetir o sucesso de Daniel Alves na lateral direita do clube, carente desde a saída do brasileiro em 2015. O português, no entanto, ainda não correspondeu as expectativas esperadas.
Logo de cara, se envolveu em uma confusão com o atacante Neymar numa sessão de treinos durante a pré temporada do clube, nos Estados Unidos. O português e o brasileiro chegaram as vias de fato e tiveram que ser contidos pelos companheiros. Para sorte do defensor luso, o camisa 10 da seleção brasileira assinou com o PSG poucos dias depois.
Depois do incidente, Semedo conseguiu uma sequência de jogos e a regularidade como titular da lateral do Barcelona. Porém, o bom momento se foi com seguidas lesões, perdendo o espaço na posição para Sergi Roberto. O jogador ficou fora de combate por dois meses, vítima de uma lesão no bíceps femoral da coxa direita.
Quando retornou, ganhou ritmo nas partidas do Campeonato Espanhol, mas foi muito mal no duelo de volta diante da Roma pelas Quartas de Final da Liga dos Campeões, em que o Barça foi eliminado mesmo tendo três gols de vantagem sobre os italianos. Semedo falhou em dois tentos dos Romanos e sofreu muitas críticas pela fraca partida.
Os problemas físicos também o afastaram da seleção. Sem condições de atuar nos dois últimos amistosos antes da Copa do Mundo, Semedo foi preterido pelo técnico Fernando Santos, que chamou os laterais Cedric e João Cancelo.
Raphael Guerreiro
O jovem lateral esquerdo de 23 anos foi contratado pelo Borussia Dortmund junto ao francês Lorient em meio à Euro por 12 milhões de euros. Após brilhar na competição por Portugal, tendo sido eleito o melhor de sua posição na competição, repetiu o sucesso logo em sua primeira temporada no futebol alemão. No ano de 2018, porém, o ala vem convivendo com lesões, que o afastaram de várias partidas.
O jogador não fez pré-temporada porque sofreu uma fratura no pé esquerdo em sua participação na Copa das Confederações. Guerreiro fez o primeiro jogo na temporada somente no dia 24 de outubro, e menos de três meses depois sofreu a primeira lesão muscular. Voltou aos gramados no dia 2 de fevereiro, contra o Colônia, mas com 27 minutos de partida sentiu outra contusão nos mesmos moldes da primeira. Num treinamento do Borussia no início de abril, o jogador sentiu sua terceira lesão em menos de um ano.
Apesar de apenas 820 minutos jogados em 14 partidas na temporada pelo seu clube, Guerreiro foi titular da seleção portuguesa na vitória diante do Egito, no último amistoso antes da Copa do Mundo. Com status de homem de confiança do técnico Fernando Santos, o ala só ficará de fora do Mundial se não conseguir recuperar-se a tempo das lesões que o atormentam desde a última época.
Jogadores que permaneceram em alto nível
Nem tudo é prejuízo para os atuais campeões da Eurocopa. Alguns destaques da seleção portuguesa seguiram mantendo o nível de apresentações em seus clubes. Alguns rumaram para times maiores e outros preferiram seguir em seus clubes antes do torneio de nações europeias.
Bernardo Silva
O meia Bernardo Silva foi um dos nomes que tiveram mais destaque depois da Eurocopa. O armador do Mônaco deslanchou na temporada 2016–17, a sua segunda no time francês, marcando oito gols e dando nove assistências na Ligue 1, sendo um dos principais nomes na conquista do título nacional. Além disso, teve papel importante na ida do clube até a semifinal da Uefa Champions League.
Em alta, o meia-atacante virou titular da seleção portuguesa e se mudou para o Manchester City por 50 milhões de euros. Sob o comando de Pep Guardiola na Inglaterra, virou um reserva de luxo, sendo peça importante na rotação do campeão inglês da atual temporada.
Gelson Martins
Gelson Martins é um atacante de lado de campo, de 22 anos e que atua no Sporting Lisboa. Um dos pilares do time de Jorge Jesus, tem como ponto forte a velocidade e a visão de jogo, principalmente em contra-ataques. Sempre presente em todas as divisões de base da seleção portuguesa, estava com André Silva no time que foi vice-campeão Europeu sub-19 (2014) perdendo a final para a Alemanha.
Dois anos mais tarde, o jogador nascido em Cabo Verde, recebeu a primeira oportunidade do técnico Fernando Santos na seleção principal e fez parte da equipe na Copa das Confederações. Com valor de mercado de 30 milhões de euros e contrato até 2022, foi ventilado uma transferência ao Liverpool, mas o jovem permaneceu em Lisboa. Foi incluído na última lista de amistosos antes da Copa do Mundo e tem grandes chances de ir à Rússia.
William Carvalho
Capitão e ídolo do Sporting, William Carvalho tem trajetória parecida de seu companheiro de clube. Primeiro volante com mais força e combate na marcação, o jovem com ascendência angolana foi titular na Eurocopa e na Copa das Confederações, possuindo muito prestígio na Seleção Portuguesa.
Pelo time verde e branco, a regularidade impressiona. Com contrato até 2020, teve uma proposta de 45 milhões de Euros do Tianjin Quanjian da China recusada em fevereiro. Um dos pilares do time de Jorge Jesus, chega às vésperas da Copa do Mundo como nome muito próximo na lista final. Antes, precisará recuperar-se de uma lesão na coxa contraída na partida diante do Atlético de Madrid pela ida das Quartas de Final da Liga Europa.
Cristiano Ronaldo
Se lhe faltava experiência na grande geração de 2004 - muito jovem à época - e companheiros melhor qualificados nas Copas de 2010 e 2014, hoje o melhor do mundo não tem do que reclamar.
Após o título inédito da Eurocopa de 2016, Cristiano Ronaldo seguiu em grande fase no Real Madrid, com dois títulos de Champions League, dois Mundiais de Clubes e dois prêmios de melhor jogador do mundo, sempre superando seu grande rival Lionel Messi.
Já em fase final de carreira - ainda em altíssimo nível - a Rússia pode ser a última oportunidade do Gajo levantar um Mundial por sua nação e entrar de vez para a história de Portugal como o maior lusitano de todos os tempos. Para isso, precisará contar a com a boa fase de 2016 de seus companheiros e não a atual da grande maioria.